sexta-feira, 22 de abril de 2016

INFORMAÇÃO AOS SÓCIOS E OUTROS AMIGOS COMBATENTES

Caros amigos Combatentes,

O Relatório de Actividades e Contas é um documento que descreve as principais actividades realizadas pelo Núcleo ao longo do ano de 2015, assim como espelha o movimento de receitas e despesas do Núcleo. O Original deste documento encontra-se arquivado na Sede do Núcleo, em Torres Vedras.
Estão disponíveis para consulta na Sede, em Torres Vedras e na Delegação da Lourinhã, não só o Relatório de Actividades relativo a 2015, como os restantes Relatórios relativos aos anos anteriores. Também podem ser consultados os mapas de Receitas e Despesas, devidamente conferidos e aprovados pela Direcção Central da Liga dos Combatentes, arquivados na Sede do Núcleo.

Estimados amigos Combatentes, e digníssimos consócios,
Aproveito esta oportunidade para vos informar que renunciei à Presidência da Comissão Administrativa do Núcleo de Torres Vedras, em 31 de Dezembro de 2015, tendo proposto para me substituir o TCor SGE, Manuel de Jesus Vilhena, que vinha desempenhando as funções de Secretário. Esta minha proposta foi aceite, por unanimidade, pelos restantes membros da Comissão Administrativa que gere o Núcleo, que compreenderam as razões que apresentei, pelo que o TCor Manuel Vilhena passou a desempenhar as funções de Presidente da Comissão Administrativa do Núlceo, em 1 de janeiro de 2016.
Esta minha atitude não tem que ver com qualquer mal-estar ou desentendimento na Direcção, apenas entendi que estava na altura de dar lugar a outro e porque preciso de mais tempo para mim. Sempre entendi e defendi que a mudança é a fonte da evolução e do progresso.
Também vos quero dizer que, se deixo de ser o Presidente da Comissão não significa, de maneira alguma que me afasto das actividades do Núcleo. Vou continuar a dar todo o meu apoio, embora apenas numa função mais restrita de Vogal da Comissão. Continuo, ainda, a desempenhar as funções de 1º Secretário da Assembleia-geral da Direcção Central da Liga dos Combatentes.
É meu entendimento que estão criadas as condições para a sustentabilidade do Núcleo e que, portanto, podemos proceder a mudanças estruturais na sua Direcção, sem traumas.
Uma organização comporta-se como um objecto com vida, com relacionamentos endógenos e com o meio onde se insere. Não pode funcionar em razão de uma pessoa só. Para sobreviver tem que saber mudar, adaptar-se a novos modelos e realidades e escolher novos caminhos. Caso contrário a organização não sobrevive.
O Núcleo de Torres Vedras já morreu uma vez, não pode voltar a morrer. Tem que seguir em frente, até porque criou expectativas nas pessoas e nas organizações envolventes, que não podem defraudar.
Quando, a 18 de Fevereiro de 2010 (Acta nº 3242/06 de 18/02/2010 da Direcção Central da Liga dos Combatentes), aceitei a Missão – presidir à Comissão Administrativa para reactivar o Núcleo da Liga dos Combatentes de Torres Vedras, encerrado nos anos setenta do século XX, sabia que não iria ser uma tarefa fácil. Não havia sócios, nem sede para os receber. Não havia espólio do antigo Núcleo, nem qualquer memória histórica das actividades da Liga dos Combatentes em Torres Vedras. Não havia, portanto, qualquer elemento local que nos orientasse.
Graças à colaboração leal, à persistência e à grande capacidade de trabalho dos restantes camaradas que compunham a Comissão inicial, o TCor Paraquedista, Miguel Gabriel Machado e o Cap das Bandas e Fanfarras, António Manuel Rodrigues e de todos os restantes elementos que, mais tarde, vieram reforçar a Comissão Administrativa, conseguimos cumprir a nossa Missão: Reactivar o Núcleo de Torres Vedras, ultrapassando obstáculos que pareciam intransponíveis.
Hoje, passados seis anos podemos orgulhar-mo-nos do nosso trabalho. Temos uma sede, em Torres Vedras e uma Delegação no concelho de Lourinhã. Espaço onde os antigos combatentes, sócios ou não da Liga dos Combatentes, se podem dirigir, para conviver ou para apresentar as suas preocupações e solicitações.
Em breve esperamos abrir outra Delegação em Sobral de Monte Agraço, que com a da Lourinhã constituirão dois embriões de futuros Núcleos da Liga dos Combatentes.
Conseguimos que muitos antigos combatentes acreditassem em nós e no nosso projecto. Com essa ajuda progredimos e a Liga dos Combatentes ganhou visibilidade na Região Oeste, onde praticamente não existia.
Não conseguimos, ainda, atingir todos os objectivos a que nos tinhamos proposto mas, embora devagar estamos a caminhar no sentido de atingirmos a auto-sustentabilidade.
Ajudámos muitos antigos combatentes a resolver problemas burocráticos e a ultrapassar os seus traumas de guerra. Sentimos orgulho no que fazemos. Fazêmo-lo, como voluntários num acto solidário para com aqueles que, chamados pela Pátria a cumprir o seu dever de soberania, mesmo com o risco da própria vida, disseram presente.
Foram muitas as tarefas que conseguimos levar a bom porto. Não as vou enumerar todas, seria fastidioso.
De todas essas tarefas há uma que não posso deixar de relembrar. A primeira tarefa que concluímos - a recuperação do Talhão dos Combatentes na Lourinhã, cujo estado caótico nos envergonhava. Hoje é um espaço digno e pode ser visitado pelos familiares dos combatentes que ali repousam. Foi, a conclusão com sucesso desta tarefa, onde contámos com a prestimosa ajuda do Município de Lourinhã e da Junta de Freguesia e, também, da Direcção Central da Liga dos Combatentes que muito contribuiu para o nosso reconhecimento.
Também não podemos esquecer o papel da Caixa Geral de Depósitos, através da sua Agência de Torres Vedras, que nos forneceu todo o equipamento necessário para equipar a Sede e a delegação na Lourinhã.
Os resultados atingidos pelo nosso Núcleo devem-se a todo um conjunto de elementos que fazem parte da Direcção do Núcleo, aos sócios, aos seus familiares, aos parceiros, e a todos aqueles que têm colaborado connosco, quer como cidadãos individuais, quer como empresas. Sem esquecer, evidentemente, o papel dos Municipios da nossa área de responsabilidade.
A todos quero agradecer, pela colaboração que deram, pela sua disponiblidade e espírito de sacrificio e fazer um pedido. Que tal como me apoiaram, continuem a fazê-lo com o novo Presidente.
Como Combatente, que teve o privilégio de cumprir a sua Comissão de Serviço no Aeroporto da então cidade de Lourenço Marques, nunca esquecerei aquilo que outros sofreram no cumprimento das suas comissões. Portanto, os Combatentes contarão sempre com o meu apoio.

José João da Costa Pereira
Tenente-coronel TMANTM (Res)


sexta-feira, 30 de outubro de 2015

PORTUGAL E A GRANDE GUERRA EM 1915




Introdução
Muito se falou e muito se escreveu sobre o conflito que assolou a europa, de 1914 a 1918, cujo 1º Centenário vem sendo celebrado.
Nunca será demais relembrar um conflito que envolveu cerca de setenta milhões de soldados e que causou mais de vinte milhões de mortos, entre civis e militares, provocando a queda de quatro impérios: Alemão, Austro-húngaro, Russo e Otomano. Assinalando a entrada do mundo no século XX. (Gomes, 2010)
Um conflito que todos pensavam ser curto e fulminante arrastou-se por quatro longos, deixando atrás de si um rasto de destruição e de morte. É preciso relembrar para que os povos não o esqueçam.
Nesse sentido, a Liga dos Combantentes, Núcleo de Torres Vedras e Lourinhã, vem organizando alguns eventos e palestras sobre esta temática.
Este texto procura resumir e dar continuidade à última conferência que se realizou na Lourinhã, em 27 de Junho passado e que reviveu o ano de 1915 e a atitude de Portugal perante o conflito.
O desenrolar do conflito
A Grande Guerra Europeia (1914-1918), vulgarmente conhecida por I Grande Guerra, por oposição ao conflito que voltou a devastar a europa no período de 1939-1945, deflagrou no dia 28 de Julho de 1914, quando o exército Austríaco atacou a Sérvia.
À época, coexistiam na europa um conjunto de alianças entre as várias potências, que dividiam o continente em dois grandes blocos: a Tríplice Aliança constituída entre o Império Alemão, o Império Áustro-Húngaro e o Reino de Itália; e a Entente Cordiale, materializada numa série de acordos entre a Grã-bretanha e a República Francesa a que, mais tarde, se juntou o Império Russo.
Eram objectivos imediados destas alianças prevenir um conflito entre as potências europeias, pela ameaça de retaliação em caso de agressão a um dos estados aliados.
O império Austro-húngaro atacou a Sérvia como vingança pelo assassinato do Arquiduqe Francisco Fernando, príncipe herdeiro ao trono Austro-húngaro a 28 de Junho de 1914, em Sarajevo, por um nacionalista Sérvio, Gavrilo Princip.
Cometeram-se vários erros de cálculo na resposta a este incidente pois, sabia-se da antiga e sólida aliança entre a Sérvia e a Rússia, irmãos eslavos e seguidores da mesma religião - cristãos ortodoxos. Os Austro-húngaros e os seus aliados Alemães não previram, por um lado a rapidez de mobilização russa e, por outro lado, a resistência do exército sérvio.
Daí em diante tudo se desmoronou. A Rússia veio em socorro dos Servios, a Alemanha cujo plano era, primeiro derrotar o inimigo a Oeste, a França e, depois, virar-se para Leste, contra a Rússia, teve que lutar em duas frentes ao mesmo tempo.
Rapidamente a guerra degenerou por toda a europa. Devido à rigidez das alianças as potências europeias viram-se envolvidas num conflito que, apenas deixou de fora os países nórdicos e a Suiça.
Esta Grande Guerra Europeia transformar-se-ia em guerra mundial com o arrastamento dos territórios ultramarinos, detidos pelas potências europeias em África e na Ásia. Mais tarde, em 06 de Abril de 1917, os Estados Unidos da América juntavam-se à Grâ-bretanha e à França, contribuindo, assim, para a derrota alemã.
Portugal e a Grande Guerra
Em 1914 o regime político em Portugal, a República, tinha apenas quatro anos de vigência. Com excepção da França, as grandes potências europeias eram governadas por regimes Monárquicos.
A instabilidade governativa e o não reconhecimento do novo regime, pela maioria das nações europeias, contribuíram para um impasse na decisão de Portugal face ao conflito que alastrava pela europa.
A velha aliança com a Grã-bretanha, que vinha de 1373, fazia com que o prato da balança tombasse para o lado dos britânicos. A maioria dos oficiais das Forças Armadas não queria intervir num conflito na Europa, devido à má preparação das nossas tropas e à falta de armamento adequado ao conflito europeu.
As relações entre Portugal e a Alemanha, à época, eram as normais e não se previa um conflito. No entanto, em Setembro de 1914, o governo da república portuguesa resolveu enviar dois contigentes para reforçar a defesa das colónias africanas.
Para Moçambique partiu um contigente comandado pelo Tenente-coronel Massano d’Amorim e para Angola, partiu outro contigente, comandado pelo Tenente-coronel Alves Roçadas.
Em 5 de Outubro de 1910, coexistiam em Portugal dois exércitos distintos: o Exército Colonial, para actuação exclusiva nas colónias e o Exército Metropolitano, para servir noutros Teatros de Guerra. A República reorganizou as Forças Armadas, introduzindo o conceito de “exército miliciano”, factor que muito desagradou aos oficiais do quadro, grande parte deles com formação feita no tempo da Monarquia.
A reorganização das Forças Armadas de 1911, levada a cabo pela República, no que diz respeito ao Exército Colonial, não só o manteve como reforçou o seu recrutamento a partir de pessoal indígena. Evitava-se a ida de militares da Metrópole para África, poupando nos custos e evitando o descontentamento.
Com o alastrar do conflito na Europa havia o receio de que a guerra chegasse às colónias. A defesa e manutenção do “Império Ultramarino” era, naquela época, talvez, o único ponto que unia todas as forças políticas.
Decidiu-se, então, reforçar o Exército Colonial, com forças da Metrópole. A Alemanha que tinha sido a última potência europeia a criar um Império, em África, desenvolvia os seus esforços de colonização e tinha tropas no Tanganika, hoje Tanzânia (fronteira Norte de Moçambique) e, no Sudoeste Africano - a Damaralândia -, hoje Namíbia (fronteira Sul de Angola).
Apesar de não haver uma declaração de guerra entre Portugal e a Alemanha, os confrontos foram inevitáveis. As primeiras escaramuças dão-se no Sul de Angola “desastre de Naulila”. Resultado, a derrota dos portugueses, o que leva à dissolução da coluna de Alves Roçadas e ao seu embarque para Portugal, no dia 9 de Maio de 1915.
Em Moçambique, as coisas também não correram melhor. Segundo relatos da época, o desembarque das tropas Metropolitanas em Lourenço Marques, foi um espectáculo degradante. Os homens que chegavam para iniciar uma missão mais pareciam um exército derrotado que regressava de um campo de batalha. (Ferreira, 1996)
O fardamento era inadequado para o clima africano, a preparação dos homens insuficiente. As doenças, mais do que o adversário, dizimaram as nossas forças.
A 23 de Janeiro de 1915, dá-se o primeiro golpe militar, após a implantação da República, que ficou conhecido por “golpe das espadas”. Em consequência Manuel de Arriaga, presidente da república, nomeia para primeiro-minitro o General Pimenta de Castro.
Uma das primeiras acções do governo Pimenta de Castro foi mandar regressar as colunas que tinham ido para África, outra acção foi parar a mobilização que estava em curso com vista a uma possível intervenção no Teatro de Guerra Europeu.
Embora não fosse unânime a decisão, as forças políticas dominantes defendiam a entrada de Portugal no conflito em França, para que, depois se pudesse sentar à mesa dos vencedores e defender os seus interesses em África. Sabia-se, que a Grã-bretanha e a Alemanha negociavam secretamente a cedência dos territórios portugueses à Alemanha, como medida compensatória. (Leal, 2010-2011)
Por outro lado, era uma forma do regime republicano conseguir obter o reconhecimento pelas potências europeias.
Em Maio de 1915, o governo de Pimenta de Castro cai e dá-se a inversão política: volta-se à preparação de uma intervenção na Europa e são, de novo, enviadas forças de reforço para África.
Em 09 de Março de 1916 a Alemanha declara guerra a Portugal, depois da apreensão de alguns navios alemães ancorados em portos nacionais. (Telo, 2014)
Começa a preparação do CEP (Corpo Expedicionário Português) que embarcou para França a 17 de Janeiro de 1917.
Portugal entrava, assim, no conflito europeu, com as consequências terríveis que todos viríamos a conhecer e que mais tarde detalharemos.
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Tenente-coronel, José João da Costa Pereira, Presidente da Direcção do Núcleo da Liga dos Combatentes de Torres Vedras e Lourinhã
Drª Teresa Maria Farto Faria de Sousa, Centro de Estudos Históricos da Lourinhã

Bibliografia Consultada
FERREIRA, José Medeiros “O comportamento político dos militares”, Editorial Estampa, Lisboa 1996;
GOMES, Carlos Matos e Aniceto Afonso “Portugal e a Grande Guerra”, Verso da História (Reimpressão), Lisboa, 2010;
TELO, António José “Cronologia Comentada 1915 – Acontecimentos em Portugal”, Academia Militar, Lisboa, 2014;
LEAL, Ernesto Castro “Memórias da Grande Guerra (1914-1918) na Renascença Portuguesa“ in Revista Cogitationes || ISSN 2177-6946 Vol. I, Nº 3, Juiz de Fora (Brasil), dez./2010-mar/2011, pp 4-18.

Notas
(1) os autores escrevem de acordo com a antiga ortografia.
(2) Este artigo foi, originalmente, publicado no Jornal Alvorada, de Lourinhã, Edião de 02 de Outubro de 2015.

domingo, 19 de julho de 2015

TOMAR - CIDADE TEMPLÁRIA



Impressões e recordações de uma viagem
Por, idelberto Eleutério, sócio da Liga dos Combatentes, nº 151501

O Núcleo de Torres Vedras da Liga dos Combatentes organizou uma viagem cultural a Tomar, cidade Templário.
Saída às 06:00 Horas junto ao Monumento aos Combatentes de Torres Vedras, em autocarro gentilmente cedido pela Câmara Municipal de Torres Vedras. Com passagem pela Lourinhã para recolher alguns associados. Tal como planeado, às 20:30 estávamos de volta a Torres Vedras. As pessoas ficaram agradavelmente surpreendidas, por se ter conseguido cumprir ao minuto todas as atividades planeadas.
Alguém referiu de imediato, ser a pontualidade, uma das qualidades militares.
Às 09.30 estávamos junto ao Monumento em Tomar, para prestar a Homenagem aos combatentes. O Núcleo de Tomar, da Liga dos Combatentes, recebeu-nos com simpatia, participando numa cerimónia conjunta. Seguidamente iniciou-
Homenagem aos combatentes por Portugal
se a visita à cidade.
Tomar estava à nossa espera. Tomar a cidade Templária. Depois da conquista da região aos mouros, o rei Dom Afonso Henriques doou Tomar à Ordem dos Templários. Em 1160 o Grão-Mestre da Ordem, Dom Gualdim Pais, iniciou a construção do Castelo e do Convento de Cristo que passaram a ser sede dos Templários em Portugal. 
Convento de Cristo

O Convento de Cristo é classificado pela UNESCO como Património Mundial. Ainda conserva memórias dos monges cavaleiros e dos seus herdeiros, a Ordem de Cristo. O Infante D. Henrique - o Navegador -, Mestre da ordem desde 1418, fez construir os claustros entre a “Charola” e a fortaleza. As maiores modificações verificam-se no reinado de D. João III, 1521-1557, os arquitetos João de Castilho e Diogo de Arruda, procuraram exprimir o poder da Ordem, dotando a igreja e os claustros com ricos floreados manuelinos, atingindo o máximo esplendor na janela da fachada ocidental. A construção realizou-se ao longo de séculos, originando uma miscelânea de traços, góticos, românicos, manuelinos, renascentistas, maneiristas e barrocos.
Janela do Capítulo
Em Tomar estava a decorrer a Festa dos Tabuleiros ou Festa do Divino Espírito Santo. É uma das manifestações culturais e religiosas mais antigas de Portugal. Teria origem nas festas das colheitas à deusa Ceres. A Rainha Santa Isabel lançou as bases do que seria a Congregação do Espírito Santo, movimento de solidariedade cristã que em muitos lugares do reino absorveu as primitivas festas pagãs. O ponto alto das festividades juntava ricos e pobres, sem qualquer distinção e ocorria no Domingo de Pentecostes, o dia em que as línguas de fogo desceram sobre os Apóstolos simbolizando a igualdade de todos perante Deus.
Assistimos ao cortejo dos rapazes, onde tudo é feito como se se tratasse do Cortejo dos Tabuleiros dos “adultos”. As crianças levam os trajes tradicionais, as meninas vestidas de branco com uma fita de cor à cintura e a tiracolo, sogra ou rodilha e transportam o tabuleiro que terá a sua altura, os rapazes trajam calça preta, cinta preta, barrete preto no ombro, camisa branca e gravata habitualmente da cor da fita da menina. Este cortejo envolve crianças dos Jardins-de-Infância e Escolas do concelho de Tomar. As ruas estão decoradas com colchas coloridas nas janelas e o chão com verdura. À passagem do Cortejo o povo vai lançando flores, criando um efeito de cores e aromas num ambiente festivo e de alegria.

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Imagens do desfile dos "rapazes"

Visitámos, também, a Igreja de Santa Maria do Olival, é uma Igreja bailia, dedicada a Santa Maria. Foi panteão da Ordem do Templo desde o século XIII. Ali se encontram sepultados alguns Mestres Templários, entre os quais D. Gualdim Pais. O edifício tem planta longitudinal, composto por três naves, com cabeceira tripartida de absidíolos quadrangulares e abside de 5 faces. As naves são definidas por arcos em ogiva e grande rosácea que encima o pórtico que domina a nave central. Provavelmente foi edificada sobre as ruínas de um antigo mosteiro beneditino. No séc. XIII teve alterações que lhe conferiram o aspecto atual. Posteriormente, nos reinados de D. Manuel I e D. João III, a igreja teve mais reparações e alterações. Com a Ordem de Cristo, Santa Maria do Olival chegou a ser igreja matriz de todas as paróquias de além-mar. É considerada Monumento Nacional desde 1910. É um dos mais simbólicos edifícios da arte gótica em Portugal.
Igreja de Stª Maria do Olival

Tomar teve uma comunidade judaica significativa, a sua origem remonta provavelmente, ao início do século XIV. A localização da Judiaria, próxima do centro económico e social da então vila, demonstra a importância que a comunidade assumiu na sociedade nabantina. A sinagoga foi fundada em meados do século XV, motivada pelo crescente número de fiéis. A construção deu-se por ordem do Infante D. Henrique que ao que tudo indica protegia a comunidade hebraica da vila. A vida deste templo foi efémera, em 1496, com a conversão forçada dos judeus ao cristianismo decretada por D. Manuel I, a Judiaria da vila, à semelhança de todas as outras do reino, é abolida, sendo também encerrada a sua sinagoga. O nome da rua é então mudado para Rua Nova. O espaço da sinagoga passou então, a partir de 1516, a ser utilizado como cadeia pública. Entre os finais do século XVI e os inícios do século XVII, depois das necessárias obras, o edifício passou a local de culto cristão, como Ermida de São Bartolomeu. Após a sua profanação, no século XIX, o antigo templo foi utilizado como palheiro, servindo em 1920, aquando da visita de um grupo de arqueólogos portugueses, de adega e de armazém de mercearia. No ano seguinte, o edifício foi classificado como Monumento Nacional, tendo sido adquirido em 1923 pelo Dr. Samuel Schwarz. Este judeu polaco, investigador da cultura hebraica, suportou obras de limpeza e desaterro, doando o edifício ao Estado em 1939, sob a condição de aqui ser instalado um museu luso-hebraico.
Passeámos pelo centro histórico e atravessámos o parque do Mouchão, onde o rio Nabão contorna uma pequena ilha, arborizada e ajardinada, dividindo o seu curso entre o leito principal e uma levada que o desvia para os antigos Moinhos do Rei. É nessa pequena ilha ajardinada ligada à cidade pelo açude e por pontes pedonais que se encontra uma grande nora de madeira, um dos ex-libris da cidade, evocativa das tradições de rega das margens do rio.
Às 13:00 iniciou-se o almoço num restaurante local. Se fosse esse o caso, teria dado origem a um relatório de serviço do Oficial de Dia, referindo que o almoço “foi do agrado de todos, servido em quantidade e com elevada qualidade”.
O grupo de ex-combatentes e alguns familiares que fizeram a visita cultural a Tomar, são aqueles que durante a guerra, foram privados dum percurso de vida normal em sociedade. Uma geração que adiou a vida. O casamento, o trabalho. Pagaram com o corpo e a mente, a incapacidade costumeira, duma classe política que tentou resolver pela via militar, uma questão essencialmente política. Deveriam ser alvo de maior atenção e de apoio, por parte das instituições e dos órgãos de soberania nacionais, porque foi no cumprimento do seu dever militar que morreram, ou regressaram com mazelas físicas e psicológicas. A política é um assunto demasiado importante na vida dos cidadãos, para ficar a cargo exclusivo dos políticos.
Uma parte do grupo de combatentes de Torres e dos seus familiares

Estas atividades e outras que envolvam ex-combatentes são de extrema importância. Os que participaram na guerra têm necessidade de conviver com alguém que fale a mesma linguagem. Alguém que perceba o risco e os sacrifícios exigidos em situações semelhantes àquelas por que também passaram. Têm necessidade de falar das suas experiências, das suas privações, das emoções, das preocupações e dos receios sentidos durante as suas duras experiências. A necessidade de serem ouvidos. De partilhar com outros, por vezes com percursos muito diferentes, mas com a guerra como denominador comum. De sentir que não estão sós que pertencem a um grupo.
Relativamente à parte histórico-cultural, consultei a Wikipédia e relembrei as bem fundamentadas, claras e bem-humoradas explicações, proferidas ao longo da visita, pelo guia do Núcleo da Liga dos Combatentes – Sargento-Mor Manuel Cristóvão.
Um bem-haja ao Núcleo da Liga dos Combatentes de Torres Vedras pela excelente viagem cultural a Tomar. Continuem assim, a trabalhar em prol daqueles que não podem esquecer nem ser esquecidos.
Até à próxima. Foi o que se ouviu em cada uma das 3 paragens que se fizeram ao deixar pessoas nos locais de residência, alguns logo acrescentaram, pode ser daqui a pouco tempo.
Até à próxima camaradas!
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IE um sócio da LC

domingo, 14 de junho de 2015

PASSEIO CULTURAL ANUAL DO NÚCLEO A TOMAR - CIDADE TEMPLÁRIA

Este ano, o Núcleo de Torres Vedras da Liga dos Combatentes vai organizar o seu grande passeio cultural anual à cidade de Tomar, em 05 de Julho de 2015, na altura da Festa dos Tabuleiros.
O passeio contemplará uma visita ao Convento de Cristo e a outros locais históricos, desta bela cidade Templária, bem como a observação do “desfile dos rapazes” e terá, pelo meio um almoço no restaurante “Lodge
Informam-se os interessados em nos acompanhar neste passeio/visita que a sua seguinte sequência a seguinte:
06H00 – Partida de Torres Vedras (Terminal);
06H30 – Chegada/partida de Lourinhã (Terminal);
09H00 – Chegada a Tomar;
09H30 – Homenagem aos combatentes, junto do Monumento;
10H00 – Início das festividades e visita;
13H00 - Almoço;
15H30 – Visita ao Convento de Cristo (Património da Humanidade);
18H00 – Inicio do Regresso;
20H30 – Chegada a Torres Vedras, com passagem pela Lourinhã.

Prevê-se que o custo da visita, incluindo o almoço, seja de 25€ por pessoa. Os interessados deverão fazer a sua inscrição até dia 25 de Junho, na Sede em Torres Vedras (Terças e quintas das 10H00 às 13H00 e das 15H00 às 18H00) ou para os telefones 261096496 – 919144566 – 925303511. Ou ainda, na nossa Delegação na Lourinhã – Mercado Municipal 1º piso.

A Direcção do Núcleo

Nota: o passeio destina-se, prioritariamente a sócios e familiares do Núcleo, mas esta disponível para outros combatentes e familiares, havendo lugares vagos. 

segunda-feira, 4 de maio de 2015

PAGUE-SE A GUERRA COM A PAZ




“Ó doce e amado esposo,/ (…) Porque is aventurar ao mar iroso/
Essa vida que é minha e não é vossa?”
(Luís de Camões, in “os Lusíadas”, c. IV, 91)

Pague-se a guerra com a paz, porque é pela paz que o homem, de boa vontade, luta, chamando a si o único interesse de salvaguardar a espécie humana.
O homem não foi feito para levar a guerra contra seu semelhante. Não devia estar na sua massa de sangue jamais pegar em armas para destruir quem com ele devia comer à mesma mesa das mesmas iguarias, dos mesmos manjares.
Terminado que fora este banquete uma única luz resplandeceria no horizonte: a luz da concórdia e do melhor entendimento nunca sob a discórdia que pudesse levar a qualquer tipo de contenda.
Fugindo de todas as escaramuças e de todas as desordens, o homem merece que seja tomado como verdadeiro homem, dentro da melhor aceção da palavra enquanto se opõe aos deuses e aos seres irracionais. E não como um lobo, “homo homini lupus”.
O homem foi concebido para se entender mas não num entendimento egoísta ou solipsista, enquanto olha única e simplesmente para o seu umbigo.
Dizer “homo” é concebê-lo como tendo a razão a presidir a todos os relacionamentos e a comportar-se com toda a dignidade.
 “Si vis pacem, para bellum”, como dizia Cícero, traduzível numa tradução bastante livre: “Se não queres ser atacado, melhor será que prepares a tua própria defesa”.
Mas atenção, esta defesa obedece a uma capacidade de raciocínio, sabendo levar a água ao seu moinho, sem complicar o percurso do melhor entendimento.
O mesmo se poderia entender com esta máxima “quem quiser comover os outros, deve provocar primeiro em si a comoção, porque as lágrimas são contagiosas”.
Ora, aqui reside também o devido e único comportamento que assiste ao homem, saber encontrar a compreensão em todas as situações vitais para não entrar jamais em contenda.
Sabendo que o homem é o único ser à flor da terra que tem dificuldade em reconhecer a sua própria espécie, daí andar permanentemente às turras, mas por outro lado o único ser racional cuja capacidade é única para saber distinguir o trigo do joio, só lhe assiste a única alternativa: sentar-se frente a frente ao seu possível “inimigo” e tentar por todos os meios entrar em diálogo construtivo, antes que as palavras se acabem. E bom será que se pense que as palavras não estarão jamais gastas, antes terão dentro de si aquele miolo que dá sustentabilidade ao saber verdadeiramente estar em quaisquer situações que serão benéficas ao homem.
Posto isto e nestes termos, não há guerra alguma que mereça estar nos bastidores do escondimento para ser levada à ribalta.
É o menor dos condicionalismos, porque a condição única que assiste ao homem não é outra senão a de olhos nos olhos, sem ramelas a encobrir algum cenário que não seja suficientemente captável por quem tem à sua frente.
  Esgrimir argumentos de que há uma terra que já pertenceu a uma determinada classe humana e por circunstâncias e demasiados reveses acabou por passar para uma outra parte nada é justificável que se pretenda extorqui-la. Ou não terá sido extorquida a parte humana que dela era, deveras, merecedora e que, por inerência, a deverá, de novo, requerer?
Ao homem o que é do homem e de toda a raça humana. Reivindicar aquilo que pertenceu sempre à outra parte não passa de um simples roubo que levará a escaramuças sem tréguas, onde a lei do mais forte tome para si o direito estúpido de a açambarcar.
No homem não há o mais forte ou mais fraco. Há o verdadeiro homem que se gere por razões e por sentimentos. Fora desta dupla no seu comportamento não passa de uma ferocidade assoberbada. E que leva até aos extremos, que é a de lutar pelo simples ato trazer aquilo que sempre pertenceu à outra parte.
 Qualquer distúrbio a que alguém se agarre, não passa de uma animalidade, de uma irracionalidade cuja justificação é não ter justificação alguma.
Não há motivos de ordem alguma para o homem entrar em conflito com o homem. Antes, se motivos houvera o único a cumprir-se na senda do bom entendimento é o de cada um saber levar a água ao seu moinho para que este moinho funcione nas melhores condições, o que significa dizer que só uma levada de água se justifica: a água fresca de uma mente sã num corpo são cujo cumprimento não é outro senão o de saber dar-se as mãos para que o moinho de uma só pedra moa o melhor cereal e o produto final seja uma farinha que mitigue a fome de todo o único ser humano.
“Nosso amor, nosso vão contentamento,/Quereis que com as velas leva o vento?” (o .c.). Ou ainda: “Como, por um caminho duvidoso/Vos esquece a afeição tão doce nossa” (o. c.)?
Ora, aqui se tem como não é compreensível que se guerreie quem quer que seja, sabendo que uma das partes em litígio não sobreviverá e quem irá ficar a ser prejudicada é “afeição tão doce nossa”.
Dois exércitos em linha de batalha não são nem mais nem menos que pretender que uma das partes domine a outra sem olhar a meios, sabendo se estes meios não têm outro especial sentido que o da liquidação da parte que se ofereceu com menor capacidade de resposta.
“Porque de mi te vás, ó filho caro,/A fazer o funéreo enterramento/Onde sejas de peixe mantimento?” (o. c., 90).
 Se o “doce e amado esposo” se vai enterrar nesta aventura, também “ o filho caro” se vai acabar por se perder nesta guerra que só de estupidez poderá ser classificada.
Descubra-se a paz, porque para qualquer tipo de guerra não há a menor justificação.
O homem beligerante não foi concebido no seio materno. Foi-se fazendo à medida que foi chamando a si um pretenso direito de usurpação de terras que não lhe pertenciam mas que se julga poder reivindicar.
Magoa qualquer partida, mais ainda quando essa partida tem por objetivo único o de pegar em armas para liquidar quem oferece resistência.
Também a própria natureza inerte e sem sentimentos se condoía quando “De mais perto respondiam (os montes)/ Quase movidos de alta piedade” (o. c. 92).
Quer-se melhor argumento que o argumento desta natureza sem sentimentos aparentes e que os transforma em “alta piedade”, quando se apodera deste triste campo de batalha numa refrega sem vencidos e sem vencedores, mas com este campo inundado de sangue humano?
Volte-se à busca da paz verdadeiramente conciliadora, onde a única regra é a do aperto de mão com os olhos bem reluzentes sem veios de qualquer presença de sangue.
  
Torres Vedras,1 de maio de 2015

Drº Manuel Ponciano

domingo, 3 de maio de 2015

HOMENAGEM AOS COMBATENTES TORRIENSES FALECIDOS - 31 DE MAIO DE 2015


Irão decorrer, no próximo dia 31 de Maio de 2015, as cerimónias evocativas do 13º aniversário da inauguração do "Monumento aos Torrienses Mortos na Guerra do Ultramar", no campo da Várzea, em Torres Vedras.

Em simultâneo festeja-se o 89ª aniversário da abertura de uma Delegação da Liga dos Combatentes em Torres Vedras (hoje Núcleo de Torres Vedras da Liga dos Combatentes).

Programa detalhado:

- 10H15 - Missa na Igreja da Graça em honra dos Combatentes Falecidos (presente estandarte e clarim)

- 11H45 - Concentração no Campo da Várzea, em frente ao Tribunal de Torres Vedras

- 12H15 - Cerimónia Militar no Campo da Várzea, junto ao Monumento
                   - Deposição de  flores
                   -  Honras militares e oração fúnebre
                   - Imposição de condecoração a antigos combatentes
                   - Alocuções alusivas ao tema


- 13H00 - Almoço/Convívio no Restaurante "O Voluntário"



Os Combatentes por Portugal e, em particular os Torrienses, merecem-nos todo o respeito e consideração
A Direcção do Núcleo de Torres Vedras da Liga dos Combatentes apela a todos os antigos combatentes e seus familiares para o seu apoio e solidariedade com esta cerimónia, honrando-nos com a sua presença.

Monumento em honra dos Torrienses Mortos na Guerra do Ultramar

Este belo Monumento é um dos mais significativos e originais de Portugal. Foi inaugurado em 8 de Junho de 2002 e evoca os nomes de cinquenta e dois Torrienses que morreram na guerra do ultramar. É da autoria do Coronel José Núncio e resultou do trabalho realizado por uma Comissão Executiva criada para o efeito no âmbito da Assembleia Municipal de Torres Vedras.
Nele se encontra inscrito o seguinte poema de Jaime Umbelino:

"Eles,
Fizeram guerra sem saber a quem
Morreram nela sem saber porquê ...
Então por prémio ao menos se lhes dê justa memória a porjectar no além"
(Jaime Umbelino, 2002)

Relação dos Torrienses cujos nomes se encontram inscritos na base do Monumento do Campo da Várzea



CICLO DE PALESTRAS SOBRE A I GRANDE GUERRA (CONT)


Dando continuidade ao seu Ciclo de Palestras sobre a I Grande Guerra iniciado em 2014, vai realizar-se a segunda fase deste ciclo no próximo dia 30 de maio de 2015, a partir das 15 horas.

As Palestras decorrerão em espaço cedido pela Câmara Municipal de Torres Vedras e contarão com a presença dos:

- Major-general de Infantaria - Inspector Geral da GNR, Luís Tavares Nunes
    (Enquadramento da Situação e Potências Beligerantes)

- Coronel de Infantaria (Reformado), Américo Henriques
    (Frente Ocidental em 1915, Trincheiras)

- Coronel de Infantaria (Reformado), Manuel Veiga Mourão
    (A Campanha de Gallipoli)


Moderador:
- Professor Doutor, Guardado da Silva


Dirigido ao Público em Geral - Entrada Livre