domingo, 28 de dezembro de 2014

JOSÉ LOBATO FALCÃO, ALFERES MUTILADO INVÁLIDO DA I GRANDE GUERRA

Um Combatente e um Resistente Inconformado


Aproxima-se do fim aquele que foi o ano do primeiro centenário do inicio da I Grande Guerra (1914-1918), também conhecida pela Grande Guerra Europeia, ou I Guerra Mundial. Muitas foram as evocações desta efeméride, muito se escreveu e muito se discutiu sobre este conflito que marcou o inicio do Século XX e cujas lembranças ainda hoje se mantêm vivas na memória de muitos portugueses.
Por mais que se fale, se evoque e se discuta, muito ficará sempre por dizer e por recordar. Foi um conflito que mobilizou cem mil soldados de Portugal para combaterem em três frentes, Angola, Moçambique e na Flandres. Soldados mal preparados, mal armados e mal equipados. Além de que a entrada no conflito não era consensual na sociedade portuguesa.
Foi assim um conflito que, além dos soldados mobilizados, envolveu uma grande parte da população portuguesa e cujas consequências se iriam fazer sentir, por muitos e longos anos.
Esta guerra provocou aos portugueses milhares de mortos, de feridos e de prisioneiros de guerra, e esteve na génese de uma mudança de regime, com a implantação de uma ditadura repressiva que iria oprimir o povo português por quarenta e oito longos anos.
Quando se fala do conflito e nas suas consequências esquecemo-nos, por vezes, que muitos daqueles que sofreram as agruras da guerra, ficando com marcas no seu corpo, além de serem abandonados pelo novo poder, então instituído por Sidónio Pais, não foram poupados quando, no regresso se fez o ajuste de contas.
É o caso de um combatente desta guerra, republicano convicto e gravemente ferido na frente de combate na Bélgica, em 28 de Outubro de 1918, um mês antes do Armistício. Uma vez regressado a Portugal e por não concordar com a ditadura imposta em 28 de Maio de 1926, acabará por ser preso e deportado para as colónias.
Defensor da instrução pública, mandou construir e ofereceu ao Estado Português a primeira escola primária que existiu no lugar de Casa Branca – Alvega Abrantes.
A vida deste homem, assim como a de muitos outros nas mesmas circunstâncias, a forma como enfrentaram as adversidades da guerra e, mais tarde, viveram os tempos difíceis da deportação e assistiram, á distância, ao sofrimento dos seus familiares, são actos dignos de registo e de não caírem no esquecimento.


JOSÉ LOBATO FALCÃO[1]

.José Lobato Falcão nasceu na pequena localidade de Ortiga, Novo Redondo - Alvega, concelho de Abrantes e Distrito de Santarém, a 23 de Abril de 1898, filho de João Lobato e de Luíza Marques.
Com 18 anos oferece-se para prestar serviço militar, sendo alistado como voluntário no Regimento de Artilharia nº 8 (RA 8), em Abrantes, no dia 12 de Janeiro de 1916.
Mobilizado para a frente Ocidental, em França, embarca em Lisboa no dia 17 de Março de 1917, como soldado servente com o nº 447 da 1ª Bataria do 3º Grupo de Busca de Alvos, do RA 8. Chega ao Teatro de Operações da Grande Guerra, em França, no dia 25 de Março de 1917 e é integrado, com a sua Bataria, na 59ª Divisão de Artilharia Britânica.
Combatendo ao lado dos ingleses é promovido a 2º Sargento a 01 de Janeiro de 1918, sendo gravemente ferido em combate, n tórax, no dia28 de Outubro, deste mesmo ano.
Foi submetido a várias operações no Hospital Britânico nº 1 e em hospitais portugueses de campanha, vindo a ser dado como incapaz para o serviço militar, por razão dos ferimentos. Regressa a Portugal, em 1919, desembarcando em Lisboa no dia 30 de Abril.
Em 1921, a 5 de Abril, casa-se com Joaquina de Matos Miguens que era natural da Aldeia da Mata - Alter do Chão, professora primária com quem tem duas filhas: Lisete, nascida a 23 de Dezembro de 1921 e Armandina de Matos Miguens Falcão, nascida a 31 de Julho de 1924.
Deduz-se que continuou ligado ao serviço militar pois em 3 de Novembro de 1923 é promovido ao posto de Alferes, por força da Lei 1464, de 15 de Agosto de 1923, sendo então 1º Sargento reformado.
Acusado de estar envolvido no levantamento militar reviralhista fracassado, conhecido por revolta do Castelo, e que eclodiu por todo o país na noite de 20/21 de Julho de 1928, com o objectivo de afastar a ditadura militar, foi demitido do Exército e deportado para Angola. Nesta província ultramarina foi-lhe fixada residência na cidade de Sá da Bandeira, onde terá residido durante dois anos. Foi durante este período de deportação que travou amizade com o sindicalista Mário Castelhano[1], igualmente deportado e a quem ofereceu a única fotografia que se conhece dele.
Talvez devido ao levantamento militar que se deu em Angola, em Março de 1930, é transferido para a Madeira, onde continua como deportado. Desconhece-se a data exacta da transferência de Angola para a ilha da Madeira mas sabe-se que, em Setembro de 1930, está com residência fixa no Funchal, onde apresenta um requerimento ao Comandante Militar solicitando-lhe que interceda para não ser, de novo transferido, agora para os Açores.
Em 25 de Fevereiro de 1931 regressa ao continente onde se apresenta na Policia Política e declara ir residir em Casa Branca, freguesia de Alvega e concelho de Abrantes. Em 1947, ainda reside nesta região de Abrantes, pois fez-se sócio da Liga dos Combatentes da Grande Guerra, na Sub-agência existente naquela Vila.
Mais tarde virá residir para Lisboa pois quando faleceu, em 20 de Janeiro de 1973, tinha como morada a rua Pinheiro Chagas nº 27, 3º Esq em Lisboa.
Encontra-se sepultado no cemitério de S. Miguel, em Torres Vedras, em campa com os símbolos da Liga dos Combatentes da Grande Guerra (Talhão nº 9, fila 4, coluna 3 e Coval nº 9).
Também se sabe, por conhecimento da correspondência trocada, entre a Direcção Central da Liga dos Combatentes da Grande Guerra e a Agência de Torres Vedras, na década de 1960, que foi ele quem comprou os mármores para a sua sepultura e que requereu autorização para ser sepultado em Torres Vedras, com os símbolos da Liga dos Combatentes da Grande Guerra.
Desconhece-se, entretanto, a razão porque quis ser sepultado em Torres Vedras se não se lhe conhecem familiares nesta região, nem existem registos da sua passagem pelo Lar de Veteranos Militares de Runa, que acolheu centenas de antigos combatentes da I Grande Guerra.

É nossa intenção continuar a pesquisar dados sobre este combatente e a dá-los a conhecer.
Para isso, pede-se a quem souber de elementos que possam levar ao contacto com algum familiar deste antigo combatente, o favor de entrar em contacto com:

José João da Costa Pereira
Tenente-coronel
Presidente do Núcleo da Liga dos Combatentes de Torres Vedras
Rua 9 de Abril, 8 – 1º
(Apartado 81)
2560-301 Torres Vedras
Telefs 261096496 – 925303511 – 964123931



[1] “ (…) Mário Castelhano nasceu em Lisboa, em 1896 e faleceu no Tarrafal, Cabo Verde, a 12 de Outubro de 1940. Foi um destacado militante anarco-sindicalista dos anos 20 e 30. De origem modesta, começou a trabalhar aos 14 anos na Companhia Portuguesa dos Caminhos-de-Ferro, tendo participado nas greves de 1911, 1918 e 1920, vindo a ser despedido pela sua participação na organização destas últimas greves.
Passou, então, a ocupar-se em actividades de escrituração no Sindicato de Ferroviários de Lisboa, na Federação Ferroviária e na Confederação Geral do Trabalho. Membro da comissão executiva da Federação Ferroviária, ficou com o pelouro das relações internacionais e a responsabilidade de redactor-principal do jornal “A Federação Ferroviária”. Dirigiu, também, os jornais “O Ferroviário” e “O Rápido”. Participou na reorganização do Conselho Confederal da CGT, após o 28 de Maio de 1926, de onde saiu eleito responsável do novo secretariado e redactor-principal de “A Batalha”. Após a tentativa insurreccional de Fevereiro de 1927, a repressão policial acentuou-se, a CGT é ilegalizada e o jornal “A Batalha” assaltado, vindo Mário Castelhano a ser preso em Outubro do mesmo ano e deportado no mês seguinte para Angola, onde ficou dois anos.
Em Setembro de 1930, foi enviado para os Açores e em Abril de 1931, para a Madeira, participando na insurreição desta ilha contra o Governo. Com a derrota deste movimento, foge da ilha, embarcando clandestinamente no porão do navio Niassa.
Em 1933, estava de novo à frente do secretariado da CGT e faz parte do grupo que organiza o 18 de Janeiro de 1934. Preso a 15 de Janeiro, três dias antes do movimento, é condenado pelo Tribunal Especial Militar a 16 anos de degredo. Embarcou em Setembro de 1934, com destino à Fortaleza de S. João Baptista, em Angra do Heroísmo, e em Outubro de 1936, para o campo de concentração do Tarrafal, onde morreu.
Foi condecorado postumamente com a Ordem da Liberdade (…)” (in in Manuel Loff, Sofia Ferreira - © 2010 CNCCR - Comissão Nacional para as Comemorações do Centenário da República).


Fontes Consultadas
AHM, Arquivo Histórico Militar

Universidade de Évora, Projecto Mosca (http://www.cidehus.uevora.pt/)





[1] Esta fotografia, a única que se conhece do Alferes José Lobato, encontra-se na Universidade de Évora no arquivo Histórico e Social “A mosca” e foi oferecida pelo Alferes Lobato a Mário Amadeu Duarte Castelhano, seu companheiro de cativeiro em Angola – Sá da Bandeira. Tem, no seu verso, a seguinte dedicatória “ (…) ao amigo e camarada de deportação, Mário Castelhano, o Alferes Mutilado da g. guerra (…)” (Novo Redondo, Abrantes-Alvega, 23/12/1929).


quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

COMBATENTES DO OESTE DESEJAM UM FELIZ NATAL 2014


A Direcção do Núcleo da Liga dos Combatentes de Torres Vedras, Lourinhã e Sobral de Monte Agraço deseja a todos os seus associados e aos seus familiares, a todos os seus amigos e colaboradores um Feliz Natal.





quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

ALMOÇO DE NATAL DOS COMBATENTES DO OESTE, 2014







Almoço de Combatentes, em 14 de Dezembro de 2014

Adega do Careca, Atalaia de Cima, Lourinhã

Junte-se a nós, Apareça.....

Núcleo da Liga dos Combatentes de Torres Vedras

domingo, 23 de novembro de 2014

DIA DE FINADOS 2014



O Núcleo da Liga dos Combatentes de Torres Vedras, como é sua tradição e dever efectuou, no passado dia 02 de Novembro, Dia de Finados, uma Cerimónia Evocativa dos Militares Mortos ao serviço de Portugal, inumados nos talhões militares da Liga dos Combatentes sobre a sua responsabilidade, bem como de outros militares sepultados nos cemitérios dos concelhos de Torres Vedras, da Lourinhã e de Sobral de Monte Agraço, onde se centraram as cerimónias deste ano, com a presença das autoridades civis e religiosas.

Num intenso périplo os actos solenes tiveram início, pelas 09H30 em Torres Vedras, com a deposição de uma coroa de flores no “Monumento aos Torrienses Mortos na Guerra do Ultramar”, seguido de uma pequena cerimónia militar em sua homenagem. Posteriormente, a Direcção do Núcleo e outros elementos que se associaram ao evento que contou, também, com a presença do Sr. João Pereira em representação do município Torriense, dirigiu-se ao cemitério de São João, onde depositou flores, simbolicamente, nas campas de três combatentes que ali repousam e que deram o seu melhor em defesa da Pátria e da Paz, em diferentes épocas.
 Fig 01 - Cemitério de Torres Vedras

A cerimónia prosseguiu, pelas 11H30 na Lourinhã, onde foi celebrada missa solene na capela de Santa Maria do Castelo – igreja de estilo gótico conhecida como igreja matriz –, em memória dos combatentes lourinhanenses e de todos os fiéis defuntos, seguindo-se um cortejo até ao cemitério, com a bênção do talhão da Liga dos Combatentes, deposição de flores nas sepulturas pelos familiares dos combatentes e honras militares.
 Fig 02 - Talhão dos Combatente Lourinhã

No Sobral de Monte Agraço decorreram os principais actos solenes que se iniciaram, pelas 14H30, no cemitério do São Salvador do Mundo, junto ao Talhão da Liga dos Combatentes. 


 Fig 03 - Talhão dos combatentes - Sobral de Monte Agraço

Estiveram presentes os familiares dos combatentes ai sepultados e muitos outros populares que se quiseram associar a esta homenagem e ainda o Sr. Vice-presidente da Câmara Municipal de Sobral de Monte Agraço, o Sr. Padre Marcelo Boita e o Sr. António Dinis que representou os combatentes do Sobral.

 Fig 04 - Talhão dos Combatentes - Sobral de Monte Agraço

 Foram proferidas curtas intervenções alusivas ao acto pelo presidente do Núcleo da Liga dos Combatentes de Torres Vedras, Tenente-Coronel José da Costa Pereira que agradeceu à Câmara municipal do Sobral a realização dos trabalhos de arranjo das campas do Talhão prometendo que, a próxima etapa será a substituição das inscrições nas cabeceiras. Agradeceu, também, a todos os presente a honra que lhe davam com a sua presença nesta pequena cerimónia evocativa aos soldados de Portugal e pelo Sr. Vice-presidente do município do Sobral de Monte Agraço, Dr. Sérgio Bogalho a que se seguiu a bênção do talhão pelo padre Marcelo Boita. A cerimónia prosseguiu com um cortejo por todo o cemitério, em homenagem aos fiéis defuntos ali sepultados.
 Fig 05 - Talhão dos Combatentes - Sobral de Monte Agraço

Após a deposição de flores nas sepulturas e das honras militares no Talhão, a cerimónia foi concluída neste espaço, tendo prosseguido na igreja multisecular e em estilo manuelino de São Quintino, pelas 15H30.
 Fig 06 - Interior da Igreja de S. Quintino

Neste templo foi celebrada missa em memória dos militares mortos, com a delegação do Núcleo a ser acompanhada neste acto solene, pelo presidente da Junta de Freguesia de São Quintino, Sr. Pedro Baeta e da tesoureira da Junta, D. Olinda Maria Dinis.

Depois desta celebração os participantes seguiram em cortejo para o cemitério anexo para a bênção do lugar, tendo sido depositadas flores em todas as sepulturas de combatentes caídos na guerra do Ultramar, e prestadas honras militares.

Na parte final das cerimónias o presidente do Núcleo de Torres Vedras agradeceu a todos os presentes, às autoridades civis e religiosas e, em especial ao Sr. António Dinis que teve o encargo de localizar e contactar todos os familiares dos combatentes para estarem presentes nestas cerimónias. O Sr. presidente da Junta de freguesia de Santo Quintino também agradeceu a todos os presentes, tendo-se disponibilizado para colaborar com a Liga dos Combatentes no que estivesse ao seu alcance. O Sr. António Dinis, em representação dos Combatentes do Sobral de Monte Agraço, com grande emotividade, agradeceu ao Núcleo da Liga dos Combatentes de Torres Vedras ter realizado esta sentida homenagem, aos representantes autárquicos e a todos os presentes que se quiseram associar a este acto em honra daqueles que deram o melhor das suas vidas pela Pátria.
É de salientar, com muito agrado, a grande adesão dos populares em todos estes actos, muito gratificante para a Liga dos Combatentes, pois é o reconhecimento pelo seu esforço.
Para que tudo corresse de feição, no Sobral de Monte Agraço, contámos com o apoio de forças do Posto da GNR local que zelaram pela segurança dos presentes.

sábado, 1 de novembro de 2014

PASSEIO CULTURAL A ELVAS


No passado dia 19 de Julho o Núcleo da Liga dos Combatentes de Torres Vedras organizou um passeio cultural a Elvas, Cidade-Quartel Fronteiriça Património da Humanidade pela UNESCO.
A comitiva composta por antigos combatentes e seus familiares, contou com os apoios das Câmaras municipais de Lourinhã, cujo o Presidente integrou a comitiva e da câmara municipal de Elvas e dos Posto de turismo de Elvas.
Presidentes das câmaras de Lourinhã e Elvas ao centro


A organizou, a nível local, foi coordenada pelo Major, Joaquim Balsinhas que contou com o apoio do Sargento-mor Ganchinho e do Núcleo de Elvas.
Realizaram-se visitas guiadas aos seguintes monumentos históricos:
- Forte de Stª Luzia;
Forte de Stª Luzia


- Igreja da Senhora da Piedade;
Em frente da Capela da Senhora da Piedade


- e ao Museu Militar de Elvas
Museu militar de Elvas


sem esquecer a viagem pela cidade no comboio turístico do Turismo de Elvas.
Além de visitar a cidade e os seus pontos com maior relevância histórica a comitiva de antigos combatentes do Oeste prestou homenagem a todos os combatentes de Portugal, com a deposição de uma coroa de flores e a guarda de um minuto de silêncio, junto ao Monumento ao Combatente do Ultramar. 
Homenagem aos Combatentes

A esta cerimónia associaram-se os Presidentes das câmaras de Lourinhã, Engº João Duarte de Carvalho e da câmara municipal de Elvas, Dr. Nuno Miguel Fernandes Mocinha.
Homenagem aos Combatentes

De salientar a nostalgia que alguns dos membros da comitiva sentiram ao recordar, na visita ao Forte de Stª Luzia e ao Museu Militar de Elvas, tempos passados e locais onde deixaram parte da sua juventude.
O momento mais emocionante foi a visita à capela da senhora da Piedade quando se observaram todas as preces deixadas por soldados de Portugal e seus familiares rogando por ajuda divina nos seus momentos difíceis no campo de batalha.


Interior da capela da Senhora da Piedade - Preces nas paredes


domingo, 29 de junho de 2014

I GUERRA MUNDIAL- CICLO DE PALESTRAS


Fig. 01 - Deslocamento no campo de batalha


Comemora-se a 28 de Julho, cem anos que se iniciou na Europa um conflito terrível conhecido por Guerra Civil Europeia, que evoluiu para Grande Guerra e que, mais tarde, ficou a ser conhecido por Primeira Guerra Mundial, em oposição ao segundo grande conflito (1939-1945).
Vivia-se, então, um período de paz entre os países europeus, também conhecido pela “Belle Époque[1]. Embora alguns falem em primeiro período de “guerra fria”. Mas eis que um acontecimento fortuito, o assassínio em Sarajevo do Arquiduque Francisco Fernando, sobrinho do Imperador Austro-húngaro - Francisco José -, em 28 de Junho de 1914,  veio despoletar o confronto, entre várias potências europeias[2], que só terminaria em 11 de Novembro de 1918, com a derrota da Alemanha e dos seus aliados.
Fig 02 - Cena do assassinato de Francisco Fernando
Fonte: Revista Veja, Agosto de 1914

Nos quatro anos de guerra no espaço europeu e territórios ultramarinos - colónias das potências europeias -, estiveram envolvidos mais de cinquenta milhões de combatentes, tendo perdido nele a vida, ou por razões relacionadas com o conflito, cerca de 36 milhões de pessoas, das quais mais de nove milhões de soldados.
A Primeira Guerra Mundial deveu-se a vários equívocos, muito desconhecimento e, quiçá, muita arrogância. Apesar dos ensinamentos trazidos pela guerra civil americana (1861-1865) e pela guerra Russo/Japonesa (1904/1905), nos decisores políticos e, em especial, nos chefes militares, prevalecia o pensamento estratégico e táctico adquirido e posto em prática nas guerras napoleónicas. Mas entretanto, o mundo tinha mudado muito e os desenvolvimentos tecnológicos a nível do armamento tinham criado uma letalidade até aí nunca vista.
Além da mortalidade e da destruição que o conflito provocou, quatro grandes impérios desmoronaram-se, dando origem a um conjunto de novos estados. Os impérios Alemão, Russo, Austro-Húngaro e Otomano, deixaram de existir.
Também Portugal se viu envolvido neste conflito, primeiro com intervenções nas suas colónias de Angola e Moçambique e, mais tarde, em 1916, no teatro europeu com o envio de um Corpo Expedicionário para França para combater a Alemanha e o Império Austro-húngaro. Além de sofrer as agruras da guerra de posição e da luta de trincheiras viu-se, ainda, envolvido numa batalha – a batalha de La Lys ocorrida na noite de 8 para 9 de Abril de 1918 -, onde sofreu uma das suas maiores derrotas militares.
Fig. 03 - Sector Português após a batalha de La Lys
Fonte: Blog - A Caixa do Tempo

Portugal envolveu nos teatros de guerra africano e europeu cerca de 160.000 efectivos, sendo as consequências desta guerra tremendas, com milhares de mortos, feridos e prisioneiros. A desorganização das Forças Armadas, o caos politico e económico que se seguiu viriam a marcar o país, facilitando o surgimento de uma das ditaduras mais longas da Europa, de 1926 a 1974.
Geralmente, os povos têm tendência a omitir os factos históricos que menos lhe são favoráveis, reescrevendo a história à medida do vencedor. No caso concreto da Primeira Guerra Mundial parece que nada aconteceu. Tudo se passou há muito tempo. A memória do conflito são os registos escritos, ou as imagens que ficaram. Publicaram-se centenas de livros e fizeram-se milhares de registos dos acontecimentos. Mas, tudo é impessoal. Aconteceu há cem anos.
Hoje sobrevivem os familiares dos intervenientes que, naquela época, eram jovens, ou duma geração que surgia e cuja memória dos acontecimentos é vaga. Já ninguém recorda os milhares de estropiados que sobreviveram aquele conflito, muitos vitimas dos gases lançados no campo de batalha.
Muitos portugueses – combatentes naquele conflito e que sobreviveram -, vaguearam pelas ruas como “zombies”, sobrevivendo em condições miseráveis. Sendo deste período a criação da Liga dos Combatentes, então com o nome de Liga dos Combatentes da Grande Guerra que visava a defesa dos interesses dos combatentes, prestar ajuda aos inválidos de guerra, às viúvas e aos órfãos.
Devemos evocar-se, igualmente, pelo seu papel primordial, como local de apoio e “casa de abrigo” de muitos desses combatentes o Lar de Veteranos Militares de Runa, hoje Centro de Apoio Social de Runa (CASRUNA). Aí foram acolhidos, tratados, alimentados e viveram até ao fim dos seus dias, muitas centenas de combatentes que puderam prolongar a sua vida graças ao apoio e ao carinho que aí encontraram.
Tal dimensão justificou a criação, pelo governo português, de uma Comissão Coordenadora das Evocações do I Centenário da Primeira Guerra Mundial, de modo a organizar e coordenar as várias comemorações que se realizam ao longo deste ano de 2014. Fazendo parte desta comissão, como não poderia deixar de ser, da Liga dos Combatentes.
Com este desiderato, o Núcleo da Liga dos Combatentes de Torres Vedras não podia deixar de se associar a estas comemorações. Assim, e com o lema “Recordar, para que não se repitam os erros”, decidiu organizar com o apoio da Câmara Municipal de Torres Vedras, a Adega Cooperativa de S. Mamede da Ventosa e a livraria União, um Ciclo de Palestras subordinado ao tema: A Grande Guerra (1914-1918).
Este ciclo vai realizar-se ao longo de três anos com os títulos seguintes:
2014 – Causas e origens do conflito;
2015 – O evoluir do conflito;
2016 – a entrada de Portugal na guerra em França.
A primeira fase deste ciclo, realizou-se no passado dia 31 de Maio, nos Paços do Concelho de Torres Vedras tendo sido oradores, o Coronel David Martelo (Causas e origens do conflito); o Coronel Manuel Mourão (O plano Schlieffen) e o Mestre  Venerando de Matos(a vida em Torres Vedras à época), tendo como moderador o Professor Doutor Guardado da Silva.

                                                   Fig. 04 - Painel de Oradores e Moderador


Nesta sessão participaram igualmente a Dra. Ana Umbelino vereadora da cultura  e o Vice-presidente  Dr. Carlos Bernardes da Câmara Municipal de Torres Vedras, bem como o Coronel Faustino Lucas Hilário, secretário-geral da Liga dos Combatentes. 
A sessão iniciou-se com uma alocução de boas vindas e agradecimento aos oradores, convidados e assistentes, pelo Presidente da Comissão Administrativa do Núcleo da Liga dos Combatentes de Torres Vedras, Tenente-coronel José Pereira. Tendo prosseguido com a intervenção da Dra. Ana Umbelino que para além dos cumprimentos a todos os presentes, destacou a iniciativa do Núcleo de organizar estas palestras pela sua importância e por lembrarem acontecimentos passados e já esquecidos por muitos,  afirmando que o município também se regozija pela colaboração que o Núcleo vem  prestando  dado fazer parte, igualmente do Conselho Local de Acção Social, tendo ainda feito parte do seu Núcleo Executivo.
A expressiva audiência presente contou também com a presença do vice-presidente da Câmara Municipal da Lourinhã, um representante da Escola de Sargentos do Exército e outras entidades oficiais convidadas.

Fig. 05 - Imagem da Assistência à Palestra

Na sua intervenção o coronel David Martelo fez um resumo da situação que se vivia à época do conflito, com as principais monarquias ligadas por laços familiares. A excepção era a França que tinha como regime uma República e que não esquecia a derrota frente à Alemanha em 1870, onde perdeu a Alsácia e a Lorena. Sabia-se que, mais tarde ou mais cedo, iria procurar a desforra.  O foco principal do momento era o jogo de alianças que iriam desequilibrar, com a Grã-Bretanha, até aí fora dos jogos continentais, a quebrar o equilíbrio ao estabelecer uma aliança com a França e com a Rússia.
Por sua vez, a apresentação do coronel Manuel Mourão, explicou a finalidade e os objectivos do plano Schlieffen, concebido por Alfred von Schlieffen, chefe do Estado-Maior alemão entre 1892 e 1906. Este plano previa resolver a guerra em dois tempos, evitando a luta em duas frentes em simultâneo. Derrotar o inimigo ocidental - a França - primeiro, para se ocupar, depois, com o inimigo a oriente  - a Rússia -. Para isso acontecer era necessário um ataque relâmpago à França através da Bélgica, país neutral, de forma a conseguir vencê-la, antes que a Grã-Bretanha tivesse tempo de entrar no conflito. Neste pressuposto os alemães contavam que a Rússia levaria muito tempo a mobilizar as suas forças.
Apesar de ser esse o plano que levou a Alemanha a entrar em guerra as coisas não aconteceram como estavam planeadas. A Rússia mobilizou de forma mais rápida do que se previa e a Grã-Bretanha chegou com tropas ao continente antes de a França ser derrotada.
O orador falou ainda das ligações das várias casas reais e das movimentações para estabelecer alianças e manter equilíbrios e, igualmente, do vazio criado pela saída do grande chanceler alemão Otto von Bismarck.
O mestre Venerando de Matos falou, essencialmente, da história local. Como se vivia e do que se vivia, assim como, das consequências para a vila de Torres Vedras com a preparação para a guerra. Entre outros episódios do quotidiano à época, o orador contou que uma Brigada do Corpo Expedicionário Português fez os seus treinos nos arredores da vila trazendo, por isso, muita gente em alvoroço. Fez, ainda, um resumo das notícias produzidas pelos jornais torrienses da época e o modo como cada um  via o desenrolar do conflito.
 Deixou um alerta e um pedido, reforçado mais tarde por uma das assistentes da palestra. Que numa outra sessão se fizesse um levantamento de quantos cidadãos do concelho tomaram parte no conflito e o que se passou com eles.
Devido a questões de agenda da Dra. Ana Umbelino, coube ao vice-presidente do município Dr. Carlos Bernardes fazer uma última intervenção, tendo o coronel Faustino Lucas Hilário, em nome da direcção da Liga dos Combatentes, realizado uma pequena intervenção de agradecimento pelo evento e procedido ao encerramento da sessão.

Fig. 06 -  Coronel Faustino Lucas Hilário no uso da palavra

Como manifestação final, o presidente do Núcleo ofertou aos palestrantes, um medalhão gravado da Liga dos Combatentes, alusivo ao evento e uma lembrança oferecida pelo município, tendo ainda o senhor Luís Santos, presidente da direcção da Adega Cooperativa de São Mamede da Ventosa, ofertado outras lembranças, seguindo-se um pequeno buffet.
Destaca-se ainda a presença da livraria União com uma pequena exposição de venda, de livros sobre o tema, alguns da autoria dos palestrantes.  
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Direcção do Núcleo da Liga dos Combatentes de torres Vedras

Bibliografia:
Para a construção deste artigo foram consultadas as obras abaixo indicadas, agradecendo-se desde já aos seus autores:

AFONSO, Aniceto e Carlos de Matos Gomes (2010), “Portugal e a Grande Guerra 1914-1918”, Verso da História, Lisboa;
CORREIA, Sílvia (2010), “Políticas da Memória da I Guerra Mundial em Portugal – 1918-1933, entre a experiência e o mito – Tese de Doutoramento”, Lisboa, FCSH Julho 2010;
FRAGA, Luís Alves (1990), “Portugal e a Primeira Grande Guerra. Os objectivos Políticos e o Esboço da Estratégia Nacional 1914-16”, Universidade Técnica de Lisboa;
FRAGA, Luís Alves (2010), “Do intervencionismo ao Sidonismo – os dois segmentos da politica de guerra na i República 1916-1918”, Imprensa da Universidade de Coimbra, Abril de 2010;
LOPES, Carlos Jorge Alves (2012), “Os portugueses na grande guerra – uma experiência de combate e de cativeiro – Dissertação de Mestrado”, Universidade Aberta, Lisboa, Outubro de 2012;
MOTA, Guilhermina (2006), “Batalha de La Lys: um relato pessoal”, in Revista Portuguesa de História, pp 77-107, Coimbra;
MARTELO, David (2013), “Origens da Grande Guerra – Rumo às trincheiras. Percurso político-militar (1871-1914)”, Edições Sílabo, Lisboa;
MARTINS, Luís Almeida (2014), “A guerra para acabar com a guerra”, in Revista Visão História nº 24, Agosto 2014, PP 10-31, Lisboa.

Webgrafia
Primeira Guerra Mundial (2014),  http://pt.wikipedia.org/wiki/Primeira_Guerra_Mundial;
 Morte de Francisco Fernando in Revista Veja, Agosto de 1914
Blog a caixa do tempo http://projecto9b.blogs.sapo.pt/1708.html;


AFONSO, Aniceto e Carlos de Matos Gomes (2010), “Portugal e a Grande Guerra 1914-1918”, Verso da História, Lisboa;
CORREIA, Sílvia (2010), “Políticas da Memória da I Guerra Mundial em Portugal – 1918-1933, entre a experiência e o mito – Tese de Doutoramento”, Lisboa, FCSH Julho 2010;
FRAGA, Luís Alves (1990), “Portugal e a Primeira Grande Guerra. Os objectivos Políticos e o Esboço da Estratégia Nacional 1914-16”, Universidade Técnica de Lisboa;
FRAGA, Luís Alves (2010), “Do intervencionismo ao Sidonismo – os dois segmentos da politica de guerra na i República 1916-1918”, Imprensa da Universidade de Coimbra, Abril de 2010;
LOPES, Carlos Jorge Alves (2012), “Os portugueses na grande guerra – uma experiência de combate e de cativeiro – Dissertação de Mestrado”, Universidade Aberta, Lisboa, Outubro de 2012;
MARTELO, David (2013), “Origens da Grande Guerra – Rumo às trincheiras. Percurso político-militar (1871-1914)”, Edições Sílabo, Lisboa;
MARTINS, Luís Almeida (2014), “A guerra para acabar com a guerra”, in Revista Visão História nº 24, Agosto 2014, PP 10-31, Lisboa;
MOTA, Guilhermina (2006), “Batalha de La Lys: um relato pessoal”, in Revista Portuguesa de História, pp 77-107, Coimbra.

Webgrafia:
                                                           




[1]Expressão Francesa cujo significado é “bela época”. Costuma referir-se ao período de cultura cosmopolita que começou no fim do século XIX e que termina com a eclosão da I Grande Guerra em 1914.
[2] Este conflito entre as potências europeias viria a arrastar países de outros continentes. Para o seu desfecho final muito contribuiu a entrada dos Estados Unidos da América na guerra, em Abril de 1918. 

sexta-feira, 27 de junho de 2014

MEMÓRIAS DE FAMÍLIA DA I GUERRA MUNDIAL


O Jornal Público ESTA a preparar um trabalho sobre o centenário da I Guerra Mundial e anda à procura de pequenas memórias de família de quem teve um familiar que tenha estado no conflito, de preferência com algum objecto (fotografia, carta) que possa ilustrar a História .
Não precisam de ser grandes histórias, podem ser pequenos episódios. alguém conhece ou alguém quer ser  voluntário obrigada pela ajuda.
Enviar informações para: cgomes@publico.pt  
Ou, se facilitar, contactar o Núcleo da Liga dos Combatentes de Torres Vedras - Rua 9 de Abril, 8 - 1 º (Apartado 81) 2560-301 Torres Vedras

mail - torres.vedras @ ligacombatentes.org.pt

Telefone - 261096496
Telemóvel - 925303511




Foto do Jornal Público de 27/06/2014

segunda-feira, 12 de maio de 2014

APELO AOS TORRIENSES E A TODOS OS COMBATENTES EM GERAL

Homenagem AOS Torrienses Mortos na Guerra do Ultramar


No Próximo dia 01 de Junho a Liga dos Combatentes, através do seu Núcleo de Torres Vedras, vai Prestar Homenagem aos combatentes torrienses vítimas na guerra de África, cujos nomes se encontram inscritos na base do monumento erigido em sua honra no campo da Várzea, em Torres Vedras.
Seguem-se os cinquenta e dois nomes, indicando a freguesia e a unidade operacional a que pertenciam:

Era nossa intenção convidar os familiares destes antigos combatentes a juntarem-se à nossa homenagem. No entanto, a sua localização tem sido uma tarefa difícil.
Assim, pede-se que nos ajudem nesta tarefa fazendo a sua localização e informando desta nossa vontade
As cerimónias presididas pelo senhor Presidente da Câmara Municipal de Torres Vedras Terão a sequência seguinte:
12h00 - Concentração Junto Fazer monumento;
12h30 - Cerimónia com honras Militares;
13h00 - Almoço / Convívio nenhum restaurante "O Voluntário"
Contamos com Todos.
 PS: Algum  esclarecimento pode ser solicitado para  261 096 496 - 925 303 511 - 964 123 931 ou pelo mail torres.vedras@ligacombatentes.org.pt 




O Presidente do Núcleo
José Pereira

TC