domingo, 19 de julho de 2015

TOMAR - CIDADE TEMPLÁRIA



Impressões e recordações de uma viagem
Por, idelberto Eleutério, sócio da Liga dos Combatentes, nº 151501

O Núcleo de Torres Vedras da Liga dos Combatentes organizou uma viagem cultural a Tomar, cidade Templário.
Saída às 06:00 Horas junto ao Monumento aos Combatentes de Torres Vedras, em autocarro gentilmente cedido pela Câmara Municipal de Torres Vedras. Com passagem pela Lourinhã para recolher alguns associados. Tal como planeado, às 20:30 estávamos de volta a Torres Vedras. As pessoas ficaram agradavelmente surpreendidas, por se ter conseguido cumprir ao minuto todas as atividades planeadas.
Alguém referiu de imediato, ser a pontualidade, uma das qualidades militares.
Às 09.30 estávamos junto ao Monumento em Tomar, para prestar a Homenagem aos combatentes. O Núcleo de Tomar, da Liga dos Combatentes, recebeu-nos com simpatia, participando numa cerimónia conjunta. Seguidamente iniciou-
Homenagem aos combatentes por Portugal
se a visita à cidade.
Tomar estava à nossa espera. Tomar a cidade Templária. Depois da conquista da região aos mouros, o rei Dom Afonso Henriques doou Tomar à Ordem dos Templários. Em 1160 o Grão-Mestre da Ordem, Dom Gualdim Pais, iniciou a construção do Castelo e do Convento de Cristo que passaram a ser sede dos Templários em Portugal. 
Convento de Cristo

O Convento de Cristo é classificado pela UNESCO como Património Mundial. Ainda conserva memórias dos monges cavaleiros e dos seus herdeiros, a Ordem de Cristo. O Infante D. Henrique - o Navegador -, Mestre da ordem desde 1418, fez construir os claustros entre a “Charola” e a fortaleza. As maiores modificações verificam-se no reinado de D. João III, 1521-1557, os arquitetos João de Castilho e Diogo de Arruda, procuraram exprimir o poder da Ordem, dotando a igreja e os claustros com ricos floreados manuelinos, atingindo o máximo esplendor na janela da fachada ocidental. A construção realizou-se ao longo de séculos, originando uma miscelânea de traços, góticos, românicos, manuelinos, renascentistas, maneiristas e barrocos.
Janela do Capítulo
Em Tomar estava a decorrer a Festa dos Tabuleiros ou Festa do Divino Espírito Santo. É uma das manifestações culturais e religiosas mais antigas de Portugal. Teria origem nas festas das colheitas à deusa Ceres. A Rainha Santa Isabel lançou as bases do que seria a Congregação do Espírito Santo, movimento de solidariedade cristã que em muitos lugares do reino absorveu as primitivas festas pagãs. O ponto alto das festividades juntava ricos e pobres, sem qualquer distinção e ocorria no Domingo de Pentecostes, o dia em que as línguas de fogo desceram sobre os Apóstolos simbolizando a igualdade de todos perante Deus.
Assistimos ao cortejo dos rapazes, onde tudo é feito como se se tratasse do Cortejo dos Tabuleiros dos “adultos”. As crianças levam os trajes tradicionais, as meninas vestidas de branco com uma fita de cor à cintura e a tiracolo, sogra ou rodilha e transportam o tabuleiro que terá a sua altura, os rapazes trajam calça preta, cinta preta, barrete preto no ombro, camisa branca e gravata habitualmente da cor da fita da menina. Este cortejo envolve crianças dos Jardins-de-Infância e Escolas do concelho de Tomar. As ruas estão decoradas com colchas coloridas nas janelas e o chão com verdura. À passagem do Cortejo o povo vai lançando flores, criando um efeito de cores e aromas num ambiente festivo e de alegria.

~
Imagens do desfile dos "rapazes"

Visitámos, também, a Igreja de Santa Maria do Olival, é uma Igreja bailia, dedicada a Santa Maria. Foi panteão da Ordem do Templo desde o século XIII. Ali se encontram sepultados alguns Mestres Templários, entre os quais D. Gualdim Pais. O edifício tem planta longitudinal, composto por três naves, com cabeceira tripartida de absidíolos quadrangulares e abside de 5 faces. As naves são definidas por arcos em ogiva e grande rosácea que encima o pórtico que domina a nave central. Provavelmente foi edificada sobre as ruínas de um antigo mosteiro beneditino. No séc. XIII teve alterações que lhe conferiram o aspecto atual. Posteriormente, nos reinados de D. Manuel I e D. João III, a igreja teve mais reparações e alterações. Com a Ordem de Cristo, Santa Maria do Olival chegou a ser igreja matriz de todas as paróquias de além-mar. É considerada Monumento Nacional desde 1910. É um dos mais simbólicos edifícios da arte gótica em Portugal.
Igreja de Stª Maria do Olival

Tomar teve uma comunidade judaica significativa, a sua origem remonta provavelmente, ao início do século XIV. A localização da Judiaria, próxima do centro económico e social da então vila, demonstra a importância que a comunidade assumiu na sociedade nabantina. A sinagoga foi fundada em meados do século XV, motivada pelo crescente número de fiéis. A construção deu-se por ordem do Infante D. Henrique que ao que tudo indica protegia a comunidade hebraica da vila. A vida deste templo foi efémera, em 1496, com a conversão forçada dos judeus ao cristianismo decretada por D. Manuel I, a Judiaria da vila, à semelhança de todas as outras do reino, é abolida, sendo também encerrada a sua sinagoga. O nome da rua é então mudado para Rua Nova. O espaço da sinagoga passou então, a partir de 1516, a ser utilizado como cadeia pública. Entre os finais do século XVI e os inícios do século XVII, depois das necessárias obras, o edifício passou a local de culto cristão, como Ermida de São Bartolomeu. Após a sua profanação, no século XIX, o antigo templo foi utilizado como palheiro, servindo em 1920, aquando da visita de um grupo de arqueólogos portugueses, de adega e de armazém de mercearia. No ano seguinte, o edifício foi classificado como Monumento Nacional, tendo sido adquirido em 1923 pelo Dr. Samuel Schwarz. Este judeu polaco, investigador da cultura hebraica, suportou obras de limpeza e desaterro, doando o edifício ao Estado em 1939, sob a condição de aqui ser instalado um museu luso-hebraico.
Passeámos pelo centro histórico e atravessámos o parque do Mouchão, onde o rio Nabão contorna uma pequena ilha, arborizada e ajardinada, dividindo o seu curso entre o leito principal e uma levada que o desvia para os antigos Moinhos do Rei. É nessa pequena ilha ajardinada ligada à cidade pelo açude e por pontes pedonais que se encontra uma grande nora de madeira, um dos ex-libris da cidade, evocativa das tradições de rega das margens do rio.
Às 13:00 iniciou-se o almoço num restaurante local. Se fosse esse o caso, teria dado origem a um relatório de serviço do Oficial de Dia, referindo que o almoço “foi do agrado de todos, servido em quantidade e com elevada qualidade”.
O grupo de ex-combatentes e alguns familiares que fizeram a visita cultural a Tomar, são aqueles que durante a guerra, foram privados dum percurso de vida normal em sociedade. Uma geração que adiou a vida. O casamento, o trabalho. Pagaram com o corpo e a mente, a incapacidade costumeira, duma classe política que tentou resolver pela via militar, uma questão essencialmente política. Deveriam ser alvo de maior atenção e de apoio, por parte das instituições e dos órgãos de soberania nacionais, porque foi no cumprimento do seu dever militar que morreram, ou regressaram com mazelas físicas e psicológicas. A política é um assunto demasiado importante na vida dos cidadãos, para ficar a cargo exclusivo dos políticos.
Uma parte do grupo de combatentes de Torres e dos seus familiares

Estas atividades e outras que envolvam ex-combatentes são de extrema importância. Os que participaram na guerra têm necessidade de conviver com alguém que fale a mesma linguagem. Alguém que perceba o risco e os sacrifícios exigidos em situações semelhantes àquelas por que também passaram. Têm necessidade de falar das suas experiências, das suas privações, das emoções, das preocupações e dos receios sentidos durante as suas duras experiências. A necessidade de serem ouvidos. De partilhar com outros, por vezes com percursos muito diferentes, mas com a guerra como denominador comum. De sentir que não estão sós que pertencem a um grupo.
Relativamente à parte histórico-cultural, consultei a Wikipédia e relembrei as bem fundamentadas, claras e bem-humoradas explicações, proferidas ao longo da visita, pelo guia do Núcleo da Liga dos Combatentes – Sargento-Mor Manuel Cristóvão.
Um bem-haja ao Núcleo da Liga dos Combatentes de Torres Vedras pela excelente viagem cultural a Tomar. Continuem assim, a trabalhar em prol daqueles que não podem esquecer nem ser esquecidos.
Até à próxima. Foi o que se ouviu em cada uma das 3 paragens que se fizeram ao deixar pessoas nos locais de residência, alguns logo acrescentaram, pode ser daqui a pouco tempo.
Até à próxima camaradas!
_____________


IE um sócio da LC