O Núcleo da Liga dos Combatentes de Torres Vedras
realizou no dia 2 de Junho de 2013, data de comemoração do 11º aniversário da
inauguração do Monumento aos Torrienses
Mortos na Guerra do Ultramar (na Várzea, frente ao Tribunal), uma singela mas sentida homenagem aos torrienses
falecidos. Foi uma evocação emocionada para todos os presentes, pois viveram as
mesmas dificuldades e riscos e, por isso, não deixaram de recordar, mesmo à
distância temporal, os que infelizmente partiram. Ao sinalizar esta efeméride não
poderia deixar de lembrar a passagem do livro A Condição Humana de André Malraux, quando refere uma vida não vale nada, mas nada vale uma
vida. Ela é um bem sem preço e tem
um valor incalculável. É por isso que
nos reunimos em torno da memória dos que tombaram em combate. Já não falamos
com eles. Falamos deles. E é por isso que esta é a única homenagem que lhes
podemos prestar.
O Núcleo da Liga dos Combatentes de Torres Vedras,
cuja recente instalação na cidade não pôde senão contar com o apoio da Câmara
da Lourinhã e com as quotizações dos seus sócios para arrendar as instalações
onde se encontra sediada, orgulha-se dos serviços que presta aos seus sócios e
familiares, num gesto de verdadeira solidariedade e humanismo. Sublinha-se, que
sabemos bem como as dificuldades unem os homens. E que foram elas que moldaram
e consolidaram a relação de amizade de velhos camaradas de armas que
circunstancialmente se conheceram como militares e se transformaram em amigos. Por
isso, a solidariedade, a estima, o respeito, o valor institucional, sobrevivem
na história de vida e na memória de cada um de nós. É por isso que surpreende o
desrespeito que sucessivos governos e demais políticos têm revelado por quem
foi compelido e sacrificado na sua juventude a servir a Pátria, como aconteceu
com a geração a que pertenço (a década de 1960/70) que se sente frustrada com
tal insensibilidade e indignidade com que é tratada.
A homenagem prestada tem como pano de fundo a
Instituição Militar. Foi por tê-la servido que comungamos os mesmos valores,
cumprimos as mesmas regras, defendemos os mesmos princípios e que, em muitos
casos, nos conhecemos directamente. As instituições sociais são faróis
orientadores para qualquer sociedade, devendo por isso merecer o respeito que
lhes cabe, mesmo quando isso não aconteça com quem as representa, o que entre
nós é infelizmente a regra. Não servem as instituições públicas. Servem-se
despudoradamente delas.
Nesta efeméride e por uma questão de grandeza moral
colectiva, não se poderia deixar de referir que a história de um povo é o
próprio povo. Por isso, honrar a memória dos seus, não é um ritual. É um dever cívico
de qualquer povo que respeite a sua história, preze a sua existência e tenha
orgulho nos feitos dos seus antepassados. Portugal e a Instituição Militar têm sido
mal tratados e até desprezados pelas sucessivas hordas (elites) políticas que
se apoderaram e exerceram o poder depois do 25 de Abril de 1974. Quando olhamos
para o que se passa noutros países europeus e observamos o respeito que devotam
à Instituição Militar, faz corar de vergonha qualquer cidadão responsável que
preze as suas instituições. Isso, infelizmente, afasta-nos do que se passa noutros
países. E a propósito, não pode deixar de se transcrever aqui o discurso de
Barack Obama, Presidente Obama dos Estados Unidos, proferido no Memorial Day "...É graças aos soldados, e não aos sacerdotes, que podemos ter a religião
que desejamos. É graças aos soldados, e não aos jornalistas, que temos liberdade de imprensa. É graças aos soldados, e não
aos poetas, que podemos falar em público.
É graças aos soldados, e não aos professores, que existe liberdade de ensino. É graças aos soldados, e não aos
advogados, que existe o direito a um julgamento
justo. É graças aos soldados, e não aos políticos, que podemos votar..." Eis a razão pela qual deve haver
sensibilidade e conhecimento da realidade para lidar com a Instituição militar.
Ela foi e deve continuar a ser uma referência para a sociedade civil. E se se
degradou, as culpas deverão ser todas assacadas à classe política que governou
o País depois de 1974, cuja arrogância funcionou e tem funcionado como escudo
da ignorância. Por isso, é moda dos políticos o achismo. Todos acham. Todos
andam a achar. Mas não se sabe o que verdadeiramente
procuram. Todos têm opiniões sobre tudo, mas não leram, não estudaram nem
fundamentam nada. Poderá o País, com esta gente, ter um futuro digno? Mas, o
mais grave é que a Europa está entregue a gente deste jaez.
Aproveita-se para sublinhar que uma sociedade que
não tem memória e não preza a sua história (o seu passado e os seus valores),
demonstra claramente que entrou em decadência. Que caminha celeremente para o
estado animalesco donde partira há milénios. Retrocesso necessariamente
indesejado e chocante para os que prezam os valores e estimam a dignidade da vida
humana.
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Por, Rocha Machado (Prof)
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