António
Martins Moreira**
Últimos dias de Outubro/1968.
No
fim de 19 meses de intensa actividade operacional, e com um elevado número de
baixas, entre mortos, evacuados com ferimentos em combate e prisioneiros, etc,
a nossa Companhia, recebia, finalmente, Ordem do Comandante-Chefe para se
deslocar para Bissau, onde passaria os últimos quatro (4) meses de comissão às
ordens deste Comando.
Reagrupamos então todos os grupos de
combate (GCOMB) na sede, na povoação de Geba, para, num dos últimos dias deste
Outubro, fazermos as malas para regresso à capital.
Para trás ficava o inferno de Banjara,
considerado o 2º. pior destacamento de toda a província, logo a seguir a BELI
(Madina do Boé).
Para trás ficavam também a estrada de
Bafatá/Mansabá pejada de minas, a tristemente célebre “curva da morte”, o cruzamento de Teixeira da Mota, assim como os
destacamentos de SARE BANDA e CANTACUNDA.
Finalmente estava reagrupada, e reunida
de novo, a nossa C. Artª.1690.
Foi de uma alegria indiscritível o
reencontro e a última noite em Geba, uma noite de convívio, de festa e de
grandes emoções, em que praticamente ninguém dormiu e se consumiram caixas de
cervejas, de whisky e de outras bebidas.
Os soldados dos Grupos de Combate
destacados já se não viam desde alguns meses, pelo que no reencontro trocaram
“abraços mil”, de saudade, de alegria e de alívio.
Finalmente, os soldados que a Pátria
nos confiou, do nosso grupo de Combate e da nossa Companhia, os melhores do
mundo, que durante dois (2) anos tivemos o privilégio e a honra de comandar, em
circunstâncias tão difíceis, nos campos de batalha da Guiné, começavam já a
acreditar que regressar à METRÓPOLE, sãos e salvos, era agora uma forte
probabilidade.
No dia seguinte pelas 06,00 horas,
toca a embarcar nas viaturas, para o transporte até BAMBADINCA, onde nos
aguardava o transporte, via fluvial, para Bissau, no mesmo porto do Rio Geba,
onde, no dia 15ABR.67, nos tinha deixado a LDM (Lancha de Desembarque médio)
que nos trouxe para o “inferno”.
Embarcamos agora, com destino a
BISSAU, na LDM “Alfange”, que como
outras, a MONTANTE, a ORION, a CASSIOPEIA, etc., sulcavam os rios da Guiné,
transportando tropas e a sua logística, armas e munições, mantimentos,
viaturas, etc… etc…
Para trás íamos deixando, para sempre,
na margem direita, ENXALÉ, PORTO GOLE, JUGUDUL e na margem esquerda, PONTA
VARELA, PONTA DO INGLÊS, XIME, JABADÁ, etc, etc.
Acompanhava-nos, no Comando da Companhia,
o Alferes Alfredo Reis, actualmente Médico-veterinário em Oeiras, Companheiro e
Amigo, certo e seguro de tantos dias e horas difíceis, mas algumas também
agradáveis e inesquecíveis, o único Oficial sobrevivente connosco, desde o 1º ao
último dia da existência da nossa magnifica e gloriosa C. Artª.1690.
A receber-nos no Cais do Pigiguiti,
Bissau, como sempre, o nosso General, António Spínola.
Realojados no Batalhão de Bissau, no
célebre “600”, ali passamos os
últimos 4 meses da comissão, agora mais tranquilos, fazendo colunas, rusgas no
CUPILON de Baixo e de Cima, guardas de honra, funerais, etc. etc.
Normalmente a actividade da rotina
diária constava agora de Patrulhamentos de reconhecimento conjugados com a AP
(Acção Psico-Social) trabalhos que dividíamos com outra companhia, a C.
Atº.1689.
Terminámos a comissão no dia 02MAR69,
embarcando com destino a Lisboa no NAVIO UÍGE, viagem que terminou no dia 09MAR69,
com o espólio no RAL 1, e a guia de marcha para a Disponibilidade.
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Advogado (Alferes Milª. Infª. Operações Especiais, C.Artª.1690-Guiné 1967/1969).
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O autor escreve ao abrigo da antiga Ortografia.
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