quarta-feira, 13 de março de 2013

FREGUESIA DO RAMALHAL - UM OLHAR


Compulsados os Livros de Recrutamento da freguesia do Ramalhal, que elencam os homens nascidos nos anos 1882 a 1964, e sistematizados alguns dos dados neles contidos, permite fazer uma análise de alguns aspectos que considero interessantes sobre esta freguesia e, de certo modo, apresentar alguns elementos curiosos. Aqueles livros relacionam, portanto, a juventude masculina que viveu, grande parte da sua vida, na freguesia do Ramalhal, durante o Sec. XX.  

 
Dos 83 anos de recrutamento foram contabilizados 2184 indivíduos, distribuídos pelos lugares da freguesia da seguinte forma: Ramalhal, 796; Ameal, 514; Vila Facaia, 478; Abrunheira, 179; Casais Larana, 53; Quinta da Bogalheira, 11; Quinta do Pisão, 10; Casal das Pedras Negras, 9; Casal da Fome, 7; Vale Cruzes, 4; Outros locais (Casal da Ponte, Quinta da Gaga, Baganha, etc), 94.
O ano com mais mancebos foi o de 1945, com 42 e com menos os anos de 1892 e 1907, com 12. Quanto ao estado civil à data do início das obrigações militares apenas 32 constavam como legalmente casados.
Relativamente à aptidão para o cumprimento militar foram Apurados 73,35% e Isentos 20,79%, restando 5,86%, que ou terão sido incluídos no recrutamento de outras freguesias ou tiveram situações militares anómalas, como faltosos ou compelidos, sendo uma das causas destas situações as ausências para o estrangeiro. A isenção do serviço militar veio diminuindo com o passar dos anos e era devida, principalmente, à falta de altura, à falta de robustez constitucional e à tuberculose pulmonar. Depois de iniciarem o cumprimento do serviço militar houve cerca de 3% de baixas do serviço por incapacidade física. Foram também identificados 09 desertores e 02 objectores de consciência (nº 6, do Artº 41º, da Constituição da República Portuguesa).
Relativamente às ocupações profissionais, a agricultura com 56,27% ocupa lugar de destaque, verificando-se que no início do sec. XX a percentagem era de quase 100%, vindo com o passar dos anos a diminuir progressivamente. A indústria cerâmica com mais de 5% ocupa o segundo lugar nas preferências profissionais, constando nos livros do ano de 1950 as primeiras referências à profissão de operário cerâmico. Em terceiro lugar aparece empregado de comércio, seguindo-se as actividades ligadas à construção civil (pintor, carpinteiro, estucador e pedreiro) e à indústria ligeira (mecânico, electricista e serralheiro). Tiveram também significado algumas profissões, entretanto quase desaparecidas, senão desaparecidas totalmente, tais como: sapateiro, padeiro, moleiro, serrador, barbeiro, pastor, carroceiro e cocheiro. Com a ocupação de estudante foram contabilizados 42 indivíduos, constando a maioria a partir dos anos 50 do século passado, sendo que 05 destes estudavam em seminários.
Refira-se que estas ocupações eram as que os mancebos declaravam ter aos 20 anos, tendo muitos, com o passar do tempo, alterado concerteza a sua preferência profissional.
Uma conclusão que também se pode retirar dos dados do recrutamento prende-se com a onomástica masculina da freguesia, de onde se salientam os seguintes aspectos:
- foram identificados 228 nomes próprios diferentes;
- os nomes mais adoptados são: José (353), António (284) e Joaquim (190). Seguem-se, por ordem decrescente: Francisco, Manuel, João, Luís, Carlos, Augusto e Fernando. Aliás, da consulta dos registos de baptismo da freguesia do Ramalhal (1811-1900) retira-se a mesma ilação.
Outro aspecto curioso relacionado com os nomes tem a ver com o facto de, no início do período em estudo, as pessoas serem identificadas por um nome composto geralmente por apenas dois elementos (nome próprio e apelido), mas, com o passar do tempo, o nome ia sendo composto por cada vez mais elementos, dado que nos anos 60, a quase totalidade dos nomes era composta por quatro, e algumas vezes cinco, elementos (2 ou 3 nomes próprios e 2 ou 3 apelidos).
E termino fazendo minhas as palavras de Joaquim Gomes em “A Freguesia do Ramalhal no Tempo”: “Há sempre dados novos que vão surgindo como sementes que o vento transporta de um lado para o outro.”
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Por, Fernando Damil
Este artigo foi originalmente publicado no Jornal Badaladas
 

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