Compulsados
os Livros de Recrutamento da freguesia do Ramalhal, que elencam os homens
nascidos nos anos 1882 a 1964, e sistematizados alguns dos dados neles
contidos, permite fazer uma análise de alguns aspectos que considero
interessantes sobre esta freguesia e, de certo modo, apresentar alguns
elementos curiosos. Aqueles livros relacionam, portanto, a juventude masculina
que viveu, grande parte da sua vida, na freguesia do Ramalhal, durante o Sec.
XX.
Dos
83 anos de recrutamento foram contabilizados 2184 indivíduos, distribuídos
pelos lugares da freguesia da seguinte forma: Ramalhal, 796; Ameal, 514; Vila
Facaia, 478; Abrunheira, 179; Casais Larana, 53; Quinta da Bogalheira, 11; Quinta
do Pisão, 10; Casal das Pedras Negras, 9; Casal da Fome, 7; Vale Cruzes, 4;
Outros locais (Casal da Ponte, Quinta da Gaga, Baganha, etc), 94.
O
ano com mais mancebos foi o de 1945, com 42 e com menos os anos de 1892 e 1907,
com 12. Quanto ao estado civil à data do início das obrigações militares apenas
32 constavam como legalmente casados.
Relativamente
à aptidão para o cumprimento militar foram Apurados 73,35% e Isentos 20,79%,
restando 5,86%, que ou terão sido incluídos no recrutamento de outras
freguesias ou tiveram situações militares anómalas, como faltosos ou compelidos,
sendo uma das causas destas situações as ausências para o estrangeiro. A
isenção do serviço militar veio diminuindo com o passar dos anos e era devida,
principalmente, à falta de altura, à falta de robustez constitucional e à
tuberculose pulmonar. Depois de iniciarem o cumprimento do serviço militar
houve cerca de 3% de baixas do serviço por incapacidade física. Foram também identificados
09 desertores e 02 objectores de consciência (nº 6, do Artº 41º, da Constituição
da República Portuguesa).
Relativamente
às ocupações profissionais, a agricultura com 56,27% ocupa lugar de destaque,
verificando-se que no início do sec. XX a percentagem era de quase 100%, vindo
com o passar dos anos a diminuir progressivamente. A indústria cerâmica com mais
de 5% ocupa o segundo lugar nas preferências profissionais, constando nos
livros do ano de 1950 as primeiras referências à profissão de operário
cerâmico. Em terceiro lugar aparece empregado de comércio, seguindo-se as
actividades ligadas à construção civil (pintor, carpinteiro, estucador e
pedreiro) e à indústria ligeira (mecânico, electricista e serralheiro). Tiveram
também significado algumas profissões, entretanto quase desaparecidas, senão
desaparecidas totalmente, tais como: sapateiro, padeiro, moleiro, serrador,
barbeiro, pastor, carroceiro e cocheiro. Com a ocupação de estudante foram
contabilizados 42 indivíduos, constando a maioria a partir dos anos 50 do
século passado, sendo que 05 destes estudavam em seminários.
Refira-se
que estas ocupações eram as que os mancebos declaravam ter aos 20 anos, tendo
muitos, com o passar do tempo, alterado concerteza a sua preferência
profissional.
Uma
conclusão que também se pode retirar dos dados do recrutamento prende-se com a
onomástica masculina da freguesia, de onde se salientam os seguintes aspectos:
-
foram identificados 228 nomes próprios diferentes;
-
os nomes mais adoptados são: José (353), António (284) e Joaquim (190).
Seguem-se, por ordem decrescente: Francisco, Manuel, João, Luís, Carlos,
Augusto e Fernando. Aliás, da consulta dos registos de baptismo da freguesia do
Ramalhal (1811-1900) retira-se a mesma ilação.
Outro
aspecto curioso relacionado com os nomes tem a ver com o facto de, no início do
período em estudo, as pessoas serem identificadas por um nome composto
geralmente por apenas dois elementos (nome próprio e apelido), mas, com o
passar do tempo, o nome ia sendo composto por cada vez mais elementos, dado que
nos anos 60, a quase totalidade dos nomes era composta por quatro, e algumas
vezes cinco, elementos (2 ou 3 nomes próprios e 2 ou 3 apelidos).
E termino fazendo minhas
as palavras de Joaquim Gomes em “A Freguesia do Ramalhal no Tempo”: “Há sempre dados novos que vão surgindo como
sementes que o vento transporta de um lado para o outro.”
--------
Por, Fernando Damil
Este artigo foi originalmente publicado no Jornal Badaladas
Sem comentários:
Enviar um comentário